que, de tolo, até pensei que fosse minha

segunda-feira, 2 de junho de 2008

um pequeno comunicado a quem interessar possa.

amigos, estou de volta!vamos fumar um cigarro?

Ele não faz promessas, nem juras de amor eterno e, mesmo assim, é o único que nunca te deixa sozinha.
Por mais incrível que pareça, é verdade. Um verdadeiro fumante nunca está só. Ilusão? Pois que seja. Já é sabido que as adoro. Sou uma romântica típica: sempre sonhando acordada, colorindo a realidade, testando as possibilidades de “como seria se...”. Mas as ilusões têm seu lado negativo: no fim, todas consistem de um mesmo gancho mal pregado à parede que,cedo ou tarde, o deixam despencar para a realidade.
Mas essa ilusão nunca termina. Ou melhor,termina quando você tem câncer,mas como diria Vinícius, felicidade não foi feita pra ser postergada ou ingerida com copinho de dosagem, e cada cigarro permeia o dia de uma pequena felicidadezinha que não é eterna, posto que É chama, mas que é infinita enquanto dura.
Eu, virginiana de corpo,alma,signo solar e vários planetas no mapa, demorei muito para aprender a me divertir. E esse processo esteve intimamente ligado à minha iniciação no mundo defumado do tabaco. Pense, basicamente, na coisa mais dinâmica que você pode esperar de eventos sociais. É isso. É por isso que a gente fuma. E, como diz um grande amigo muito querido, também geminiano por ascendente (acidente?), a gente fuma porque é assim mesmo: sem maturidade,inseguros e sem caráter. E tenho dito!
Cada cigarro com um amigo ou mesmo com um estranho é uma socialização de cumplicidade estranha, vocês dois têm algo em comum que transcende a simples classificação fumante/não-fumante. Vocês têm em comum motivos POR QUE fumar, e sabem disso.Motivos os quais pode-se desconhecer,em se tratando de um estranho, e não existe nada mais prazeroso do que tentar desvendá-los, ou motivos que o fazem sentir-se lisonjeado por ser o escolhido a conhecê-los, quando o companheiro de tragadas em questão se trata de um amigo querido. E como a gente é inseguro, isso satisfaz muito a nossa carência emocional e falta de objetivo!
Essa ligação mágica entre as pessoas, essa identificação instantânea, NÃO acontece, diferentemente do que não-fumantes pensam, com outras afinidades. Por acaso estou fora da realidade ou é comum se puxar conversa em uma festa com o argumento de que “Puxa, você bebe cerveja! Eu também. Que coisa ótima.Acho que nós temos muito em comum.” ????
Pois isso,queridos pulmões saudáveis incomodados com a nossa fumaça, acontece quando você pede fogo pra alguém. Se a pessoa não tiver, você não vai gostar menos dela por causa disso,mas é como se ela nunca fosse compreendê-lo completamente. Já,pelo contrário,se tiver, está feito o primeiro contato: vocês têm algo em comum, e você deve algo a ela pelo resto de sua vida, pelo simplíssimo fato de não tê-lo deixado sozinho nesse mundo como o único imaturo, inseguro e sem-caráter do planeta. Sim, você tem uma desculpa: “Sou sem caráter,sim, mas ele também é, ó! E a gente fuma junto e, na nossa imaturidade infantil e débil,achamos que estamos arrasando.”
Isso sem contar que ser fumante tem um quê de viver a vida intensamente, de não levá-la tão a sério--aliás, nada a sério, que isso afinal de contas, há de matar-nos a todos um dia--um quê de irresponsabilidade maravilhosa, e, ora bolas, que delícia é ser irresponsável. Fazer as coisas dentro do script é para os fracos.
Quem dera conseguíssemos estender toda essa coragem para quebrar as regras e ir contra o sistema em outras áreas de abrangência da nossa existência, como lutar contra a fome no mundo subdesenvolvido, fazer passeatas contra as guerras ou difamar políticos corruptos em praça pública, mas veja bem, além de tudo, ainda somos modestos, pouco ambiciosos,não vamos te atrapalhar fazendo greves que parem o país, não: a gente se limita a acender um cigarro !
É por essas e outras que, minha gente, num manifesto claro a favor do bom humor, do charme que reside no decadente e daquele cigarrinho básico pós-trepada (sem eles,meu deus, o sexo nunca mais seria o mesmo!), que me permitirei,sim, por vezes,a acender um cigarro e jogar pra dentro de meus pulmões algumas substâncias tóxicas básicas.
Obrigada àqueles que, na minha fase de abstinência,me cederam cigarros, me resgatando das trevas. Tem fim o período de vacas magras!
Portanto alguém me empreste o fogo, que ainda não comprei um isqueiro novo,e , por favor me dê licença, que Jarbas acaba de chegar com meus cavalos.

raquel schaedler

3 comentários:

maria carolina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
raquel schaedler disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

esse texto é sensacional, ainda que agora, na fase "chiclete de nicotina", ele tenha perdido um pouco de sentido!