que, de tolo, até pensei que fosse minha

quarta-feira, 11 de junho de 2008

estou farta das vontades comedidas, quero feitos manicomiais.

de que vale o conforto de uma vida certa, diante de todas as possibilidades que a incerteza oferece? certeza se faz de consultas no dentista, novela das oito, horário no cabeleireiro.
na inconstância da minha condição humana, me incomoda às vezes a instabilidade da profissão que escolhi, a indefinição da minha vida amorosa, os amigos queridos que encontro uma vez ao ano e que, quando encontro, parece que os vi há apenas alguns dias,e que tive uma semana movimentada, cheia de novidades pra contar. gostaria de vê-los mais,de abraçá-los mais, de mostrar-lhes mais músicas legais.
mas no fundo, no fundo, penso comigo, que graça teria minha vida sem reviravoltas, se eu própria sou feita de um grande redemoinho? seria, mesmo, uma vida sem imprevistos,algo desejável? a certeza tem o dom de ser, em si, uma propaganda enganosa. ela carrega consigo a falsa conotação de boas novas. boas novas? por quê? muitas vezes a incerteza é o melhor que se pode esperar de uma situação. o benefício da dúvida.
é visitar um parente internado com uma doença incurável, e acreditar que não existe nada certo a respeito daquilo. é torcer pelo emprego novo, se iludir deliciosamente depois do mais novo primeiro encontro, é controlar a gripe (!) quando se sabe que tem uma festa importante no outro dia.
é esperar pela chuva de sapos, pelo milagre, pelo roteiro hollywoodiano com final "deus ex machina".
é entender que nem tudo precisa ser explicado para que possa ser entendido. é enxergar com olhos de criança, intuitivos e generosos. um pouco ingênuos, inexperientes, crus.
a visão estritamente objetiva também é uma espécie de cegueira. cegar-se para o que não é palpável, fechar-se para as possibilidades do que não se pode controlar também é estar aleijado. a pior deficiência é a deficiência da alma. a alma que não acredita,que não sente, que não chora, que não tenta, não se decepciona (consequentemente).
às vezes é preciso cegar-se para o óbvio pra poder entender o subjetivo.

e talvez seja com esses olhos que se deva enxergar as coisas,esses olhos cegos. pois não existe nada que importe suficientemente que requeira olhos, que não possa ser sentido.

raquel schaedler.

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