que, de tolo, até pensei que fosse minha

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

first sight

Você não consegue definir: simplesmente sente que existe algo a mais, algo de diferente, na menos extraordinária das hipóteses, algo de menos comum. De primeira pode até passar despercebido, começa a ter essa impressão depois de um mês,uma semana...mas existe sempre um momento em que se decide,mesmo involuntariamente, mergulhar numa viagem sem volta de curiosidade interessada. E aí é aquela coisinha que ele falou, que define tão bem o que você pensa... Aquela música que só você gostava... aquele jeito de arrumar o cabelo todo errado,e que combina tanto com todo o resto que não poderia ser mais certo. Aquela maniazinha de não usar óculos de sol e franzir a testa quando as coisas não saem do jeito que esperava,seu jeito discretíssimo e minucioso de se expor ao mundo,que o torna tão frágil e tão particular, precisando desesperadamente ser salvo. Uma mistura de plágios de várias coisas e pessoas que você já viu antes mas com notas de uma delicadeza e originalidade, a obra ganha nova vida quando executada com maestria singular. É como aquela música, que vocês ouviram juntos numa brisa de outono, aquela,que você já tinha ouvido sozinha tantas vezes e não tinha nenhum sentido,mas agora quando você escuta parece te acalmar e te deixar nervosa, de um jeito curioso e que você não compreende muito bem. Todas aquelas coisas que você já ouviu de outras pessoas a que nunca deu atenção agora parecem soar mais claras, você escuta cada palavra e lhes dá um sentido até excessivo,até inverossímil, até despropositado. E você não entende como isso tudo aconteceu tão rápido,você gostaria de ter tido mais controle, de ter tido mais escolha. Mesmo imaginando que teria feito exatamente as mesmas coisas, teria tomado as mesmas rotas, não gostaria que alguém tivesse decidido isso por você. Não gostaria que isso fugisse à regra básica que estabeleceu pra todas as áreas da sua vida, a regra a que obedece compulsivamente todos os dias desde o momento em que abre os olhos, atordoada e confusa pelos sonhos que contradizem tudo aquilo que você faz durante o dia. Você gostaria simplesmente que isso também se enquadrasse nessa mini-prisão particular e não fugisse ao seu controle. E tudo isso poderia ter sido tão perfeito, se tivesse acontecido apenas um ano antes, ou um ano depois, se você não estivesse tão comprometida com aquele amigo que não está bem, ou se não estivesse tão centrada na sua carreira, ou se conhecesse ele um pouquinho melhor.Ou se ele tivesse esperado só uma semana mais pra chamá-la pra sair. Um dia mais. Se ele tivesse esperado você ter coragem, esperado você se expor. Se ele tivesse esperado você se entender melhor, você se gostar mais. Se ele não tivesse demorado tanto pra olhar pra você, sentiria-se mais confiante. Mas agora... agora são só fragmentos de algo que você sentiu algum dia,mas não sabe mais muito bem. Nem se conheceram muito bem. Ele foi estudar naquela cidade distante, e você ficou pensando se deveria pensar nele , mas achou que seria bobagem, você nem sabe direito o seu sobrenome. Você nem aprendeu como abraçá-lo, como abraça a todos os seus amigos, ou como lhe dizer que a camiseta que está usando está do avesso. Sua vida inteira está do avesso. Todos os seus amigos já não a reconhecem, você não sabe mais onde está morando dentro de todo esse monte de manias e gírias que não lhe pertencem. Talvez se ele tivesse conseguido resgatar melhor o que há de melhor em você.

raquel schaedler - jul/2007

assumidamente inspirado no texto de martha medeiros

Um comentário:

raquel schaedler disse...
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