que, de tolo, até pensei que fosse minha

domingo, 8 de novembro de 2009

E me resta esse meu sono em vigília.

É uma dor. Com certeza mais por você do que pelo outro, mas acima de tudo, uma dor pelo mundo. Por saber que você vive no mundo. Que viver com medo é viver pela metade. O que acontece quando o medo do outro priva você? O que acontece quando o medo do outro te ilude, te ludibria, quando o medo do outro te mente. Triste mesmo é viver pela metade. É não se atirar em direção ao abismo, porque se foi bruscamente puxado de volta pelo braço. É não criar asas. É ater-se às vontades comedidas ao invés dos feitos manicomiais. É pensar em todas as meias-emoções, as dores de cortes médios e quedas amortecidas, as noites de prazer comedido, contido, finito. Tudo no mundo tem prazo de validade. O amor tem data pra ficar vencido, o amor é datado, é pensado, tudo é milimetricamente dosado, como um conta-gotas de antídoto: pode ser que ao invés do remédio ele contenha o veneno. Quando foi que tudo se tornou tão perigoso? Desde quando as pessoas têm tanto medo de amar? Estaremos nós de tal forma acostumados à violência, ao perigo, à vigília, tenhamos nós perdido tamanhamente também a capacidade de amar sem sentir medo?
Quando foi que amar se tornou um crime de danos morais?
Quero acordar desse sono em vigília, quero o leve sonhar dos velhinhos. Quero viver meu amor de forma sincera, quero sofrer sem usar óculos. Quero falar o que tenho vontade. Quero acreditar que as coisas vivem na memória, mas que eu não vivo de memórias. Quero acreditar que as coisas vivem na memória. Que eu vivi o que está na minha memória. Que por um (breve) momento, aquilo foi real. Que por um breve momento, senti sua mão roçar meu pulso com a persistência dos apaixonados por duas horas a fio. Que senti seus lábios beijarem minha nuca e que você nem sempre teve esse olhar de adeus. Pela primeira vez eu vi o olhar de adeus. Talvez não tivesse antes um parâmetro de comparação. Triste é pensar que pra você talvez isso tenha sido um amor de adeuses fáceis. Pra mim, foi um encontro. Pra você, uma emoção repentina. Eu não sei se acredito em você.Mas também não entendo como uma cumplicidade tão instantânea e etérea se desmancha tão suavemente no ar.

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